Condicionamentos ou desculpas

Criar um blog e depois não o alimentar é quase tão mau como criar esse mesmo blog com o título A Butes e depois andar constantemente de automóvel. Enfim, sinais dos tempos, condicionamentos malvados, exigência que implicam rápida deslocação.

O Porto já não está mal servido de transportes públicos, comparando com outras cidades, mas chegado ontem de Paris até tenho pena, numa cidade assim realmente quem precisa de carro?

Vivo perto da praia, sim tem as suas vantagens, mas não há transportes e para apanhar o bus da STCP tenho que caminhar 20 minutos.

Mas tudo são desculpas, querer é poder. E eu hei-de lá chegar.

Continuo a butes mas...

de vez em quando, ainda pego no carro:
- ou porque é noite, e aquela hora não há transportes;
- ou porque é longe e sem carro iria demorar 5 horas para fazer uma viagem de 30 minutos;
- ou porque gosto de correr no parque da cidade e a logística autocarro é complicada depois de 45 minutos de corrida, com a a minha cadela;
Assim, na última 5ª feira, fui dar a minha corridinha! Não fiz o percurso normal, pois aproveitei estar de carro para fazer uns recadinhos mal-jeitosos! Vi-me no meio do trânsito, quase com ataque de ansiedade, sem conseguir mover-me um centímetro, sem que ninguém mostrasse piedade por aquele ser claramente deslocado...não é que se perde mesmo o treino! Já não tenho a mesma habilidade para me mover entre engarrafamentos e outras coisas mais...e que contente que estou!

EduDICAS

Hoje transcrevo um texto do EduDICAS - C.3c's - Centro para o Consumo Crítico e Consciente...ir a butes é uma das medidas :)

(i)mobilidade – mexe-te para te moveres de forma ECOLÓGICA

O automóvel em Portugal

De acordo com dados divulgados pelo gabinete comunitário de estatística, em 1990 existiam no País 258 automóveis por cada mil habitantes, o que colocava Portugal claramente abaixo da média da União Europeia (355). Em 2004, porém, o rácio passou para 572, fazendo saltar o País para o terceiro lugar da tabela europeia, liderada pelo Luxemburgo (659) e pela Itália (581). Os números do Eurostat revelam ainda que Portugal foi o terceiro país onde mais cresceu o número de viaturas entre 1994 e 2005 : 135%, que compara com uma média europeia de 38%.

-) Anda a pé e/ou de bicicleta.

Portugal é um dos países da Europa com maior quantidade de automóveis por habitante. O que não deixa de ser curioso considerando, por exemplo, que o nosso clima até é bem menos chuvoso ou frio do que a maior parte dos outros países da Europa, nomeadamente os países nórdicos. Paradoxalmente, uma grande parte das deslocações efetuadas de automóvel referem-se a distâncias de curta e média distância. Isso significa que poderiam perfeitamente ser efetuadas através de meios de transporte de baixo ou nenhum impacto ambiental, como a bicicleta ou a própria deslocação pedonal. No entanto aparte de todos os aspetos práticos, a utilização do automóvel tem também uma enorme componente cultural. O automóvel é um sinal de estatuto e emancipação social. Como a cultura é felizmente algo em constante transformação, porque não começarmos desde já a mudá-la no sentido dela própria ser muito mais ECOlógica? Nesse sentido se pudermos evitar ou pelo menos reduzir a utilização do automóvel estaremos a produzir benefícios não só para o planeta (por toda a quantidade de gases poluentes libertados, por toda a dependência relativamente a uma fonte energética com um elevado impacto ecológico e social como é o petróleo) mas também para nós próprios. É uma forma de tornarmos o nosso estilo de vida menos sedentário, mais económico e é uma oportunidade de vivermos e sentirmos “o espaço”, a “cidade” sem ser de dentro de uma lata poluente ;O) Podes começar, por exemplo, por selecionar um ou dois dias por semana “sem carro”. Toca então a dar uso às pernocas e faz-te à estrada … de bicicleta! (ou patins ;O)

-) Partilha do automóvel – sistemas de boleias partilhadas

Sabias que a maioria dos automóveis circulam com apenas um passageiro? Muitas vezes o número de pessoas que se desloca para o mesmo local (de trabalho ou de estudo) é bastante elevado, mas cada pessoa desloca-se no seu próprio automóvel. Nesse sentido existe um enorme potencial de otimização de recursos no sentido das pessoas poderem aprender a cooperar e partilhar. Existem já alguns locais onde funcionam sistemas de partilha de boleias. Várias pessoas juntam-se em função dos trajetos a percorrer e organizam-se de forma a otimizar a utilização dos veículos. Para além de possíveis benefícios em termos de socialização e de podermos tornar as deslocações mais “humanas”, há um enorme benefício por cada viagem de automóvel que se evita dessa forma. Há até algumas empresas que possuem um autocarro próprio responsável por ir buscar e depois levar os trabalhadores de casa para o local de trabalho e vice-versa. Uma outra possibilidade, ainda mais arrojada, é a própria partilha da posse de automóvel. Por vezes não utilizamos o automóvel todos os dias e sendo um recurso cada vez mais dispendioso (manutenção, arranjos, combustível) não temos que ser proprietários exclusivos do nosso próprio automóvel mas podemos, por exemplo, partilhar a sua posse com familiares ou amigos, através por exemplo de uma escala de utilização.

-) Transportes públicos

A generalidade das políticas de (i)mobilidade são estruturadas em função do transporte automóvel individual. Portugal em particular é um dos países da Europa com maior quantidade de km de auto-estrada por habitante. O que está por detrás é um modelo de suposto desenvolvimento baseado na construção em massa da grande rodovia ao mesmo tempo que se vai eliminado o meio de transporte mais seguro, ecológico e até económico que existe: o comboio. Os próprios transportes públicos urbanos (não só a ferrovia) têm sofrido um enorme desinvestimento e um processo de privatização que o torna cada vez mais num negócio e cada vez menos num direito verdadeiramente público. Nesse sentido é fundamental um movimento coletivo de cidadãos no sentido de exigir a proteção de um direito básico de todos os indivíduos: o direito a uma mobilidade confortável, económica e ecológica. O direito a um serviço público de transporte. É fundamental as políticas de mobilidade serem alteradas e as cidades, por exemplo, voltarem a ser das pessoas, das crianças, da Natureza e cada vez menos do asfalto e dos automóveis. Junta-te a movimentos ecológicos e sociais que trabalhem nesse sentido. Junta amigos e criem movimentos ecológicos e sociais que trabalhem nesse sentido. O espaço público é de todos nós, e de ninguém em particular, vamos lutar para que de facto assim seja. De cada vez que utilizas o transporte público estás também a apoiar esse modelo de transporte.

Mas eu a ti não te fazia uma festa...

Hoje ia no metro uma senhora com um cachorrinho, um filhote de pitbull, ainda com dentição de leite! Lindo de morrer...outra senhora aproximou-se e perguntou:

-"Morde?", ao que dona respondeu:

- "Morde, pois!".

A pouco corajosa dama deu um salto para trás, assim meio horrorizada, ao que a dona do cão reagiu com um:

- "Mas eu também mordo...tenho dentes, não tenho?"

A resposta da outra não veio, mas ficou no ar :)

Não sei se é de mim...

mas na viagem entre casa e metro, por entre as paisagens urbanas da Bacia Leiteira (sim, é o nome oficial) e ao olhar em meu redor, dei-me conta...já cheira a Primavera.

A temperatura amena, as cores e os cheiros, e o fantástico ruído da vida...e sem qualquer esforço surgiu um sorriso genuíno!

Para isto mais valia não ter chovido...

" (...) pois, porque choveu, ficamos a pensar que, pronto, já estava, despreocupamo-nos, tomamos um daqueles banhos que rebenta com as reservas de qualquer barragem e afinal, nada! Continuamos sem chuva e de consciência pesada".

E com a bela da conta da água para pagar, digo eu!

Cada viagem é um momento de cultura :)

O que se pode aprender às 7.20 da manhã, entre as sete bicas e o pólo universitário

"Antigamente, as pessoas não se limitavam a ser homens e mulheres, mas um dos três tipos: macho/macho, macho/fêmea ou fêmea/fêmea (...) cada pessoa continha em si os componentes das duas partes. Toda a gente vivia satisfeita (...) Foi então que os deuses pegaram numa faca e cortaram cada um em dois. (...) depois disso, o mundo ficou dividido (...) e as pessoas passaram o resto da vida à procura da sua própria metade."

Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami

E não é que faz sentido...espero por novas revelações na viagem de regresso :)

Degustar sonoridades

Uma das vantagens de caminhar, degustar sonoridades.

Isto de ir a butes tem muito que se lhe diga...

Senão vejamos: seria de esperar que o dia encurtasse, à custa do tempo despendido nas deslocações! Mas, na realidade, os dias aumentaram!

Agora, o precioso tempo das minhas deslocações é usado para:

- Reciclar: agora passo por uma loja da Nespresso onde deposito regularmente às cápsulas de café! ( e vais mais uma para o ambiente :)

- Ler: Quem me conhece sabe que adoro ler! É quase como viajar...quase! Nos últimos meses fui a locais fantásticos, conheci pessoas verdadeiramente hipnotisantes, emocionei-me ...muito bom!

- Pensar: os tempos são de mudança, de escolhas... e, se por um lado as mudanças são boas porque nos obrigam a evoluir, as escolhas estão inevitavelmente ligadas com a perda... pelo que pensar é preciso! A velocidade do quotidiano nem sempre nos deixa parar para pensar; portanto, porque não fazê-lo em movimento?

Sensações

Caminhar permite-nos apreciar os quadros que se nos deparam enquanto ouvimos música a condizer.

Azul ao fundo

Num dia cinza caminho.

O ar fresco da manhã acaricia-me o rosto,

sem delicadeza, com a sua caraterística cortante.

O Sol, em minha defesa, desponta,

E um feixe de luz brilha-me nos olhos,

refletindo o caminho que à frente se encontra.

Sorvo a beleza do Inverno nesse instante.

Greve

Andar a butes tem destas coisas: sair de casa com um sol radiante, apesar do frio, caminhar 15 minutos e, por fim, esperar na paragem de autocarros tempos infinitos, até me lembrar que hoje devia ser dia de greve. E era!

Voltei a fazer o mesmo percurso, confesso que já sem apreciar a paisagem da mesma forma, para ir buscar a "biatura", passando assim mais um dia a contribuir com gases maléficos para a atmosfera. Mas que se há-de fazer, a greve é um direito que assiste aos senhores motoristas!

Da próxima vez tenho que estar atento às notícias.

O nome do meu cão

"... e depois de escolher o nome de utilizador, pediram-me para definir a senha...disseram-me para escolher algo difícil, algo que a maioria das pessoas desconhecesse...coloquei Filosofia, pois nunca pesquei nada disso no liceu! Sabes o que ela respondeu? Nível de segurança Fraco! Fraco? Então, coloquei o nome do meu cão...deu forte! ou muito forte, já nem sei! Vá-se lá entender as máquinas!"

E assim vamos, ouvindo conversas alheias no metro!

É tempo de balanço...

....pois, se chegou a hora de carregar o andante para Fevereiro, há que equacionar vantagens e desvantagens do projeto, que fará agora um mês!

Então, vamos a isso:

- Fui ao Japão, ao Mónaco e encontro-me, atualmente, em Inglaterra, no campo :) (I'm loving it);

- Chego, para trabalhar, sempre bem-disposta, pois o mau feitio matinal já se dissipou ( o povo que me rodeia agradece);

-Vivi mais! Sim, interagi mais com o meio, com as pessoas;

- Escrevo num blog, coisa que até há um mês atrás me parecia francamente impossível :)

- Poluo menos :))))))) Esta sim, faz muiiiiiiiiiiiiiiita diferença! Começar a fazer parte da solução (pensem nisso!)

- A carteira está mais bem disposta; sim, é bem lucrativo!

Desvantagem (única):

- De manhã, menos 30 minutos de sono....dói!

Tudo somado, penso que é evidente!

Quem se junta a nós, agora que Fevereiro se aproxima?

Sentir na pele...

o frio e o quente, a chuva e o sol, ouvir tudo o que me rodeia...

Sentir na pele as estações do ano...é do mais apaixonante que há, faz-nos sentir parte de algo maior, faz-nos sentir vivos. Adoro!

O seu momento

Sempre gostei de caminhar. Coloco os meus fones, viajo no meu mundo e caminho. Sabe bem caminhar sem a pressa de chegar, caminhando pelo simples facto de gostar. 

Por vezes chego ao destino e penso que se fosse um pouco mais longe seria bom, pois é perfeito aquele pedaço de tempo só meu. Nesse tempo, crio projetos, planifico a minha semana, coloco mais um desafio na minha agenda. Então, chego a casa e escrevo tudo o que me lembro.

Durante a caminhada tornamo-nos mais criativos e colocamos em prática mais facilmente as nossas metas. 

Hoje, ouça uma música que goste muito, vista uma roupa confortável e caminhe. 

Enquanto caminha, a ouvir a música que escolheu, organize-se, crie a próxima meta a atingir. Quando terminar, escreva tudo o que pensou durante a caminhada, esvaziando a sua mente,como diz diversas vezes David Allen, tornando a "mente clara como água". 

 No fim, sentir-se-á bem disposto e descontraído, mas também pronto para reagir a qualquer situação.

Prozac

Hoje fui à baixa! Coisas do trabalho que teima em não estar sempre no mesmo lugar! Faz parte...e eu até que gosto!

Fui de metro até aos Aliados e caminhei até ao Jardim Carrilho Videira! Cheguei sorridente e geladinha!

Ouvi:

"Está tão sorridente que não pode vir trabalhar..."

"Parece turista!" (eheheh!)

...é! É uma espécie de Prozac, mas baratinho, sem efeitos colaterais, com inúmeras vantagens!

Não deixem de experimentar!

Música para caminhar

Andar a pé tem destas coisas, podemos pôr em dia aqueles álbuns que já há muito andávamos para ouvir, ou então, escutar uma boa rádio e conhecer artistas como este Michael Kiwanuka, neste delicioso registo Home Again.

A diferença entre lunatic e insane!

“Insane refere-se, provavelmente, a um problema mental inato, algo que exige tratamento profissional, enquanto que lunatic significa que a tua sanidade está temporariamente cativa da luna(…)”

1Q84, de Haruki Murakami

Passei os últimos 15 dias no Japão, num ambiente ora insano, ora lunático! Tive por companhia Aomame, professora de artes marciais, cujo nome significa ervilha, e Tengo, professor de matemática, escritor em construção! Andar de metro é muito bom!

Vantagens

A vantagem de caminhar vinte minutos, apanhar o autocarro e fazer uma viagem de mais quinze e por fim caminhar mais cinco, é que durante esse tempo posso: alinhar ideias; ler; contemplar a paisagem; analisar as pessoas; aprender com a observação; e, não menos importante, sentir-me melhor pelo ar que respiro e com mais vitalidade pelo exercício que faço sem me aperceber.

Agora é a sério…

Explicações dadas sobre o âmbito do blog, falta dar uma palavrinha sobre as motivações: no que me diz respeito, um livro estará na origem de tudo: Dormir nu é ecológico, da Vanessa Farqharson. Li-o, o ano passado, numa semana, devorando todas as páginas. É um relato muito divertido sobre as aventuras e desventuras de uma ecologista, pouco convicta no início, mas que rapidamente deixa de lavar o cabelo em nome da causa…não me parece que vá por aí…decididamente, não irei por aí!

Mas se algumas das medidas tomadas pela autora me pareceram impossíveis, não me passou ao lado a necessidade de diminuir o impacto que tenho, diariamente, sobre o meio ambiente. Deixar o carro em casa surgiu como uma escolha mais do que natural para iniciar o caminho: libertar-me do trânsito diário (YES!), aproveitar melhor o tempo das minhas deslocações, ver pessoas, ver lugares e sentir o vento na cara são as vantagens mais evidentes! Por outro lado, perdi tempo de sono, mas também perdi o sentimento de culpa que me acompanhava a cada viagem, por conduzir um carro de cinco lugares só com uma alminha!

Mas acho que é agora que a coisa vai mesmo começar: com a chuva! Agora é a sério…

Menos solas

As primeiras palavras neste nado blogue servem para explanar em breves moldes o surgir deste espaço, que espero ver crescer não só em número de registos escritos, fotográficos, sonoros, ou outros, mas também em número de colaboradores.

A ideia de criar um sitio na web nestes trâmites surgiu pouco depois de ter tomado a resolução de usar menos automóvel e mais transportes públicos, e melhor ainda, estas duas belas pernas que a criação me disponibilizou.

Após as primeiras caminhadas apercebi-me que é maravilhoso apreciar os locais por onde se passa, as pessoas, e as pequenas trivialidades que se vão repetindo às mesmas horas. As novidades, os momentos inesperados e as conversas que se ouvem. Muito material para registar.

Para já somos dois, eu e minha querida amiga Inês, mas em breve poderão ser muitos mais, bastando para tal preencher o requisito de por opção deixar o automóvel em casa e gastar solas andando a butes.